Nesse artigo será tratado qual a relação entre indicadores de projetos preditivos e de inovação e como considerar cada um no desenvolvimento de soluções de inovação de alto impacto, além de compreender por que da importância de se adotar novas metodologias, ferramentas e processos para definição de indicadores e gestão inovadora, conforme afirmam Keup et ali (2012) e que condizem com a realidade de cenários onde o avanço da tecnologia e conectividade impactaram no modelo tradicional de gestão.
Gerenciar projetos de inovação é ≠ que gerenciar projetos preditivos
Uma das maiores causas de grandes empresas falharem em projetos de inovação resulta da maneira como realizam o gerenciamento desses projetos, e na maioria das vezes tratando soluções inovadoras como preditivas, uma vez que o método e processo aplicados possuem objetivos distintos.
Quando se olha para um time dentro de um escritório de projetos em um sistema tradicional é comum apenas identificar grupos que são formados por pessoas com especialidade em determinada área de atuação do projeto e também que, quando a empresa já possui uma mentalidade ágil, divididas por alguns papéis necessários para conduzir times de projetos metodológicos e boas práticas ágeis orientadas pelo scrumban, que combina de modo híbrido os métodos scrum e kanban.
Em um time de projetos, como já vimos em outros artigos, essas funções são exercidas pelo: “PO” ou ‘dono do produto” que tem como função entender as necessidades do “cliente”, levando os requisitos para o scrum master que é o líder do projeto que por fim, deverá repassar o escopo ao time de desenvolvimento, garantindo que todo o planejamento seja obedecido, como a gestão dos recursos humanos, materiais, financeiros e prazo do projeto e assim satisfazendo as necessidades e expectativas dos patrocinadores.
Contudo, ter um escopo definido, com lista de funcionalidades a serem desenvolvidas, papéis com foco em agilidade e capital financeiro destinado para o desenvolvimento, pode colocar em risco um novo produto ou solução quando esse apresenta características de inovação.
Na imagem a seguir fica exemplificado quais são as várias que perfazem a gestão de um projeto preditivo e olhando para ela nada parece estranhar no modelo de se gerenciar times e projetos, até mesmo os inovadores.
Por outro lado, imagina que você trabalha em uma empresa de transporte urbano nas cidades, e está incumbido de desenvolver uma inovação junto com um time que foi composto nos critérios acima, partindo de um planejamento inicial e escopo definido com um orçamento limitado e prazo de 12 meses para mostrar para os seus patrocinadores que o projeto vai virar negócio.
Como você vai saber a aceitação do mercado de uma nova solução de mobilidade?
Quanto tempo você e o seu time vão levar para trabalhar a descoberta e validação de um problema real no mercado?
Qual será o modelo de negócio definido final?
Quais serão os principais indicadores que vão mostrar que estão no caminho certo?
Pense nessas perguntas e até o final desse artigo você chegará em sua conclusão, mas antes, analise a tabela abaixo que define um método de gestão de um projeto preditivo dentro de um escritório de projetos e as variáveis e indicadores.
TÓPICOS | PROJETOS TRADICIONAIS |
Monitoramento e controle | Forte e autoritário |
Indicadores de desempenho | Escopo, Prazo, Custo, ROI |
Nível de impacto da solução | Medido em % |
Time e pessoas | Depende da complexidade e escopo, papéis conforme o PMBOK |
Tecnologia | Terceirizada, fábrica de software e gera customização para novos entrantes |
Recursos financeiros | Definido pelo escopo e limitado ao planejamento |
Diretrizes | Estratégia corporativa definida pela diretoria |
Onde acontece | Escritório de projetos, dentro da empresa |
Em ambientes onde a inovação é gerida seguindo esse modelo, costuma-se desenhar uma estratégia cujo foco e preocupação esteja na gestão por resultados e financeiros, ou seja, a pressão exercida para que o projeto demonstre ROI, retorno sobre o investimento, é muito forte para com o time executor.
Por isso muitos projetos nascem não de desafios motivadores dentro da organização que surgem para resolverem problemas de mercados e não apenas da visão do dono da empresa, mas sim com foco em melhorias incrementais nos produtos ou serviços já existentes ou mesmo nos processos, nesse caso sendo projetos preditivos ou tradicionais, o modelo funciona muito bem, mas para inovação, não.
Mas nesse cenário, a cultura ou gestão pode matar a inovação.
Gestão de projetos inovadores e indicadores
A gestão de projetos de inovação deve ter uma atenção especial em relação ao método que as empresas gerenciam suas soluções com características inovadoras, e porque muitas inovações tendem a morrer quando são levadas para um escritório de projetos sem olhar para os indicadores de inovação gerando grandes conflitos entre patrocinadores e o time que foi delegado para executar a inovação.
Em um time voltado para projeto de inovação e mais ainda se for de alto impacto, é preciso ter além dos papéis definidos dentro da metodologia do PMBOK, pessoas que convergem para a formação do tripé da inovação, formado por um membro da área de negócios, outro da área de tecnologia e um de design de serviços, estratégia, experiência do usuário.
Isso, porque os indicadores de inovação vão além do escopo preditivo, mas precisam trazer métricas que ajudem o time a validar a ideia no mercado.
Retomando as perguntas no início desse artigo, quando, hipoteticamente, você e seu time são levados para desenvolver uma inovação com foco na mobilidade urbana, os indicadores e variáveis que você precisa considerar são, dentre tantos outros e para cada etapa do desenvolvimento, os seguintes.
TÓPICOS | PROJETOS DE INOVAÇÃO |
Monitoramento e controle | Fraco mas orientado aos dados |
Indicadores de desempenho | CAC, LTV, CS, CD, Churn, Runaway, MRR, ARR, AARRR ….. |
Nível de impacto da solução | Medido X |
Time e pessoas | Tripé (CEO, CTO, CDO) e seguindo métodos scrum e de agilidade |
Tecnologia | Proprietária |
Recursos financeiros | Mínimo para acontecer e conforme validação do mercado |
Diretrizes | Market fit – foco está no ajuste da solução ao mercado |
Onde acontece | “Mais longe possível da empresa”. Vá para um ambiente de inovação: coworking, aceleradora etc. |
Principalmente na parte dos recursos financeiros que muitas vezes são gastos em projetos preditivos e espera-se chegar no final do planejamento para ter um resultado alcançado em projetos de inovação, os recursos podem ser mais ou menos do que o planejado conforme a solução ou produto vem sendo testada e validada no mercado antes do seu desenvolvimento em si, o que pode ajudar as empresas a gerenciar melhor o processo de desenvolvimento e gerenciamento de inovações evitando assim, desperdícios e tempo para tentar apenas desenvolver do ponto de vista da factibilidade, ou engenharia ou código antes da resposta do mercado.
Nesse modelo, é possível identificar indicadores que mais estão relacionados às etapas de validação de um novo modelo de negócio de uma ideia ou produto, do que o gerenciamento em si do escopo, como identificar o custo de desenvolvimento do cliente ou customer development (CD), ou então trabalhar com a estratégia de sucesso do cliente (CS), de definir estratégias para reduzir o CAC – custo de aquisição de novos clientes e a receita gerada por esse em cada canal que ele se relaciona com a empresa no tempo que permanece com ela, o LTV.
São inúmeros indicadores que precisam ser entendidos e que dariam para escrever um Livro apenas sobre eles, e variam conforme o status do desenvolvimento da inovação: por exemplo, na etapa de ideação e validação do cliente, o foco está em trabalhar o CD, entender se realmente a dor existente precisa ser resolvida no mercado, se existe um nicho de mercado ou mercado em massa disposto a utilizar ou pagar por uma solução e se não, trabalhar o pivot, estratégia de reposicionamento antes que os recursos acabem; na etapa de validação da ideia uma vez compreendido a dor e o cliente, é preciso validar a solução, verificar se ela terá aderência ao mercado, começando a explorar alguns canais de aquisição de clientes, e no início é preciso explorar diversos canais até encontrar o melhor com o melhor custo benefício, testar estratégicas de crescimento, orgânico, crescimento em escala.
Lembre-se
Se você faz parte de um time que está desenvolvendo um projeto preditivo ou de inovação, compartilhe esse conteúdo com eles, e ajude a sua empresa a entender a importância de identificar os indicadores corretos para cada tipo de solução a ser desenvolvida no mercado.
Gerir projetos preditivos funciona quando você já conhece o produto final a ser lançado e conhece a aceitação do seu mercado, ou quando o objetivo é gerar melhorias incrementais trazendo mais praticidade e reduzindo custos com processos antigos, caros e até obsoletos dentro da empresa, mas gerir projetos de inovação vai depender muito do time a ser formado, da obediência aos critérios do tripé da inovação e do processo de validação do projeto no mercado.
O melhor momento para levar uma ideia de produto ou serviço inovador para dentro de um escritório de projetos, é quando já se realizou uma validação estruturada junto aos potenciais clientes em campo e é possível medir a aceitação ou não dessa no mercado, aí faz sentido definir escopo, recursos e tudo que for necessário para dar prosseguimento no desenvolvimento contudo é importante frisar que:
Quem determina para onde a inovação acontece e qual o produto final no mercado que o seu cliente deseja, será o mercado e não o time do desenvolvimento.
CEO na PontoGet Inovação e Sócio na Meliva
Professor de MBA em Inovação.
Ajudo médias e grandes empresas a tornar seus colaboradores mais criativos, inovadores e produtivos.
Deixe uma resposta
Want to join the discussion?Feel free to contribute!